“Torna-te quem tu és.”
(Nietzsche)
Lidar com a superdotação é, a meu ver, antes de tudo, lidar
com o fato de que ela é um tema tabu.
Mas o que é o tabu?
Monique Augras, no livro “O que é tabu”, esclarece que o
termo tabu foi utilizado pela primeira vez por James Cook, navegador inglês que, em uma descrição de
viagem à Oceania, alistou o comportamento denominado Tapu , realizado pelos moradores das ilhas Tonga. O termo Tapu era utilizado como uma alusão ao
que era, cocomitantemente, sagrado e proibido. Com o tempo, Tapu transformou-se em Taboo,
na língua inglesa, e passou a designar não apenas o que é sagrado, mas também
os mecanismos criados para lidar com o sagrado.
Segundo a visão psicanalítica de Freud, tabu é tudo aquilo em
que é proibido tocar e traz em si uma ambivalência originária, já que a sua
origem está em uma ação proibida e um forte desejo de realizá-la.
Já de acordo com a perspectiva sociológica, o tabu é a forma
que o grupo social tem de não lidar com aquilo que não entende: o que eu não
conheço eu segrego.
No passado, vários temas já foram tabus, como o câncer, a
letalidade, as medidas contraceptivas e a sexualidade das crianças e
adolescentes.
Mas a contemporaneidade também apresenta os seus tabus. E
todo tabu é acompanhado de seus respectivos dilemas:
ü
- Tabu: Aborto. Dilema: Somos responsáveis pela criação?
- Tabu: Aids. Dilema: A Aids significaria uma dupla punição? Sexo e morte
- Tabu: Células-tronco. Dilema: Em que momento a vida começa? Uma vida tem mais valor que a outra
- Tabu: Eutanásia. Dilema: Podemos acabar com a vida? Temos, ou não, o poder da vida e da morte?
- Tabu: Morte. Dilema: Somos frágeis então?
A meu ver, por tudo que vi e vivi, a superdotação é um tema
tabu e encerra em si o medo de se enfrentar o seguinte dilema:
Então as pessoas não
são iguais? Alguns seriam “melhores” do que os outros?
O comportamento dos personagens envolvidos com essa temática
também confirma a realidade do tabu da superdotação: quantos pais não preferem
o silêncio, escondem-se, protegem seus nomes e o de seus filhos, fazem de tudo
para não se exporem, temem que pensem que seus filhos são doentes, temem que a
superdotação seja associada a qualquer das comorbidades que, excepcionalmente,
podem acompanhá-la, quantos não temem o preconceito?
E quantas crianças, apesar de tamanha proteção, continuam
vivendo os dilemas da falta de compreensão do que é a superdotação e de suas
implicações?
Penso que um dia, os outros educandos com necessidades
especiais, já tiveram que romper a barreira do tabu e lucraram com isso. Seus
problemas estão na mídia, suas bandeiras são defendidas em campanhas, suas
necessidades ganharam a simpatia da opinião pública. Tudo muito justo e
merecido, já que tiveram, um dia, a coragem de dar o primeiro passo.
O tabu permite refletir sobre a nossa natureza humana, sobre
a convivência com o diferente; permite analisar o nosso sentimento de
onipotência e perceber a vida como ela realmente é.
Em suma, refletir sobre os
tabus é tentar realizar a difícil tarefa de fazer da vida que temos o melhor possível.
E será que estamos fazendo o melhor que podemos pelos sobredotados?
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