quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A superdotação é um tema tabu

TEXTO DE ANA PAULA FRANCO




“Torna-te quem tu és.”

(Nietzsche)






 


Lidar com a superdotação é, a meu ver, antes de tudo, lidar com o fato de que ela é um tema tabu.

Mas o que é o tabu?

Monique Augras, no livro “O que é tabu”, esclarece que o termo tabu foi utilizado pela primeira vez por James Cook, navegador inglês que, em uma descrição de viagem à Oceania, alistou o comportamento denominado Tapu , realizado pelos moradores das ilhas Tonga. O termo Tapu era utilizado como uma alusão ao que era, cocomitantemente, sagrado e proibido. Com o tempo, Tapu transformou-se em Taboo, na língua inglesa, e passou a designar não apenas o que é sagrado, mas também os mecanismos criados para lidar com o sagrado.

Segundo a visão psicanalítica de Freud, tabu é tudo aquilo em que é proibido tocar e traz em si uma ambivalência originária, já que a sua origem está em uma ação proibida e um forte desejo de realizá-la.

Já de acordo com a perspectiva sociológica, o tabu é a forma que o grupo social tem de não lidar com aquilo que não entende: o que eu não conheço eu segrego.

No passado, vários temas já foram tabus, como o câncer, a letalidade, as medidas contraceptivas e a sexualidade das crianças e adolescentes.

Mas a contemporaneidade também apresenta os seus tabus. E todo tabu é acompanhado de seus respectivos dilemas:
ü   

  • Tabu: Aborto. Dilema: Somos responsáveis pela criação? 
  •  Tabu: Aids. Dilema: A Aids significaria uma dupla punição? Sexo e morte 
  • Tabu: Células-tronco. Dilema: Em que momento a vida começa? Uma vida tem mais valor que a outra 
  • Tabu: Eutanásia. Dilema: Podemos acabar com a vida? Temos, ou não, o poder da vida e da morte? 
  •  Tabu: Morte. Dilema: Somos frágeis então?

A meu ver, por tudo que vi e vivi, a superdotação é um tema tabu e encerra em si o medo de se enfrentar o seguinte dilema:

Então as pessoas não são iguais? Alguns seriam “melhores” do que os outros?

O comportamento dos personagens envolvidos com essa temática também confirma a realidade do tabu da superdotação: quantos pais não preferem o silêncio, escondem-se, protegem seus nomes e o de seus filhos, fazem de tudo para não se exporem, temem que pensem que seus filhos são doentes, temem que a superdotação seja associada a qualquer das comorbidades que, excepcionalmente, podem acompanhá-la, quantos não temem o preconceito? 

E quantas crianças, apesar de tamanha proteção, continuam vivendo os dilemas da falta de compreensão do que é a superdotação e de suas implicações?

Penso que um dia, os outros educandos com necessidades especiais, já tiveram que romper a barreira do tabu e lucraram com isso. Seus problemas estão na mídia, suas bandeiras são defendidas em campanhas, suas necessidades ganharam a simpatia da opinião pública. Tudo muito justo e merecido, já que tiveram, um dia, a coragem de dar o primeiro passo.

O tabu permite refletir sobre a nossa natureza humana, sobre a convivência com o diferente; permite analisar o nosso sentimento de onipotência e perceber a vida como ela realmente é. 

Em suma, refletir sobre os tabus é tentar realizar a difícil tarefa de fazer da vida que temos o melhor possível. 

E será que estamos fazendo o melhor que podemos pelos sobredotados?

Nenhum comentário:

Postar um comentário