terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A longa vida escolar de um menino de 5 anos- Parte 6: a busca pela nova escola

EPISÓDIO 1
A ESCOLA COM BOAS RECOMENDAÇÕES

A verdade é que eu não sabia que a Parte 6 da Longa Vida Escolar de um Menino de 5 Anos receberia  o título acima. 

Jamais pensei que haveria uma busca por novas escolas. 

Ingenuamente, imaginava eu que ir até a escola recomendada por pessoas de minha confiança, ligadas à educação, realizar a entrevista, pagar e aguardar o início do ano letivo seria o suficiente. Mas não foi.  

A visita à escola recomendada como sendo a ideal para Pedro, por ser perto de casa, por ter uma proposta construtivista, foi feita primeiramente por mim. E devo confessar que, durante a visita, meu coração pulsava fortemente por estar novamente dentro de uma escola. 

E no momento daquela visita foi inevitável: eu relembrei as narrativas feitas no blog O Curioso Caso de Rafael Valmont . Eu me vi, ali, como aquele pai que faz de tudo para se controlar e não falar demais, o que pode levá-lo a chorar (mais uma vez) diante de estranhos. 

Sendo mais precisa ainda o fato é que eu mesma chorei. Chorei sem querer chorar e isso é realmente desconfortável. Mas o choro ficou para o final, quando rememorei a história de Pedro. 

Mas antes do choro pude percorrer as instalações da escola. Então, vamos à ela: eu esperava muito mais da Escola Recomendada. Esperava não só a metodologia, mas também uma infraestrutura a contento. A verdade é que eu tive que superar, rapidamente, a minha decepção quanto à segunda parte. O que vi foi uma escola, fazendo uso de um termo atual, precisando de modernização de seu espaço físico. Mas isso não poderia me abater, afinal de contas tratava-se da Escola Recomendada e eu estava decidida a matricular Pedro nela.

A segunda etapa do processo seletivo nessa escola foi cumprida por Pedro: no dia seguinte à minha visita ele foi para uma manhã de convivência. O problema é que o que eu tentei mascarar para mim mesma ficou evidente demais para ele, que deu a sua sentença para a professora e para mim: 

"Vocês dizem que gostam da Natureza  mas a escola não tem nem um jardim direito. A escola tá suja, o banheiro tá sujo e eu não gostei daqui."

Eu ( em pensamento) concordei com ele, mas nessa hora pensei: 

"Será que não dá para mentir só de vez em quando?"



Nem preciso dizer que a escola telefonou dizendo que infelizmente não poderia receber Pedro este ano. Se bem que ele já não iria mesmo!



EPISÓDIO 2
AS OUTRAS DUAS ESCOLAS TAMBÉM BEM RECOMENDADAS

Diante do inesperado fracasso junto à Escola Recomendada, parti eu ( não se esqueçam de que meu marido estava em casa com o pé para o alto prestes a ser operado) para as outras duas escolas sobre as quais eu tinha boas notícias. A primeira delas é conhecida pelo seu caráter democrático e a segunda pela inclusão.


Pedro apaixonou-se pela escola Escola Democrática, gostou do que viu. Ao sair da convivência afirmou, que era nela que queria estudar!

O problema com essa escola foi quando entrei no assunto necessidade educacional especial. Para não cair na armadilha do choro, dessa vez fui bem sucinta mas, mesmo usando essa estratégia,  percebia que a cada palavra minha a coordenadora arregalava os olhos e parecia pensar: 

"O que eu vou fazer para me livrar dessa mala, quer dizer, mulher?".

A coordenadora  me deixou sozinha na sala por uns 30 minutos. Depois voltou como uma lista com muitos nomes e disse que a turma estava cheia. Eu até retruquei: 

"Mas como? Eu liguei antes para saber se havia vaga?" 

Ela então afirmou:

"Quem sabe se abrirem uma nova turma... Ligue em janeiro... Somos um escola inclusiva e democrática..." 

E eu liguei. Foi quando descobri que a coordenadora mentiu, a escola tem duas turmas para a série que procurávamos. O que faltou foi a coragem para dizer não.



Após passar pela Escola Democrática mais um item foi acrescentado à minha lista de problemas: 

PROBLEMA Nº1) Marido por operar;
PROBLEMA Nº2) Filho sem escola 
PROBLEMA Nº3) Filho sem escola e acreditando que haveria alguma chance de estudar na escola de que gostou. 

Belo final de ano foi esse o meu...

E foi no apagar das luzes de 2011 que cheguei à escola conhecida pela inclusão. A Escola Inclusiva me recebeu para uma entrevista e a primeira pergunta da triagem foi: 

"O aluno tem necessidade especial? Por que se for o caso, nós não temos vagas." 

Pronto, daí o blog me veio novamente à cabeça, porque desatei a chorar. 

Bem, já volto a falar sobre a estrevista, é que antes preciso dizer que não foi à toa que usei o termo triagem. O que percebi é que já no primeiro ano do ensino fundamental, apesar das escolas, em sua maioria não utilizarem provas para selecionar novos alunos, o chamado dia de vivência, em muitas das escolas que visitei (mas não em todas), funciona como uma verdadeira  triagem, onde o foco está muito mais na verificação da adaptabilidade do pretendente ao sistema daquela escola do que na avaliação do nível de aprendizagem do aluno.

Bem, eu parei no meu choro, né? 

É...Essa entrevista foi interessante...

Assim como na Escola Democrática, a entrevista na Escola Inclusiva foi coletiva. E, se na primeira a coordenadora do meio em diante da conversa passou a dar atenção apenas à segunda mãe, devo reconhecer que na Escola Inclusiva, as duas mães foram tratadas com o mesmo respeito. 

Éramos duas mães aflitas ali naquela sala: ela por ser professora da rede pública e não ter dinheiro para matricular a sua filha em uma escola particular. A professora, angustiada pela vontade de ver sua filha em uma boa escola unia-se a mim pelo desejo de ter o que parecia tão intangível naquele momento: uma escola para os nossos filhos. 

Mas, se por um lado havia algo que nos unia, por outro, eu e aquela mãe  estávamos em situações extremamente distantes: ela ofereceu-se para trabalhar na escola em troca da educação da filha. E eu, mesmo com o cheque pronto para ser assinado, não tinha nenhuma probabilidade de conseguir a vaga. Saí da escola com a promessa de uma nova entrevista. Dependendo do caso, quem sabe, surgiria a vaga...

Dois dias depois lá estava eu na Escola Inclusiva. Consegui contar a história de Pedro sem maiores emoções e a pessoa que me atendeu foi de uma sinceridade rodrigueana: 

"É muito difícil incluir essas crianças (superdotadas). Elas exigem trabalho extra da professora... Se o caso do seu filho ainda fosse de o de uma criança com o ritmo mais lento que as demais... Aí fica mais fácil incluir porque basta estimulá-la em separado...Uma turma com mais de duas crianças assim enlouquece a professora, não é fácil. Para você ter uma idéia, nós aqui só abrimos duas vagas para o primeiro ano do Fundamental em 2012. Estabelecemos como padrão incluir apenas dois por turma, para termos condição de atender bem. As pessoas chegam aqui cedo, meses antes do final do ano. Já é tarde demais."



Ouvindo isso, e concordando que é preciso sim um trabalho extra com o aluno SD, que ele exige mais da escola e contrapondo isso ao fato da escola só incluir dois alunos com necessidade educacional  especial  em cada turma, comecei a formar o meu juízo de valor:

1- A disponibilidade para incluir, até mesmo nas escolas com tradição no tema, é bastante restrita;
2- As escolas com maior tradição em inclusão (dentre as que eu visitei) foram as que aparentaram menor cuidado com a preservação de seus imóveis;
3- E eu, que sempre busquei escolas espaçosas e com boa infraestrutura, teria que desconstruir o meu modelo de escola ideal ou, quem sabe, teria que aprender a lidar com a tal escola apenas boa o bastante, como bem descreve o pai Jota, no blog Papo entre Pais! Isso se eu a encontrasse, é claro....



EPISÓDIO 3
A ESCOLA CONSTRUTIVISTA PARA INGLÊS VER


Ainda presa aos sonhos das escolas bonitas, e grandes e com laboratórios, etc, etc, etc, e inclusivas, parti para uma bonita e construtivista escola.  Primeiro fui sozinha e achei tudo muito lindo e encantador. Marcamos uma visita com Pedro. O problema com essa escola foi descobrir, ao longo da convivência, que em sala de aula esta escola era  tão construtivista quanto tradicional das escolas.  Foi duro desistir desta escola que era apenas um castelo de areia.



EPISÓDIO 4
A ESCOLA MONTESSORIANA


Buscando alternativas visitei uma escola montessoriana. Mas não consegui imaginar Pedro dentro de uma sala de aula com essa metodologia. Apesar do mote inicial ser sedutor, há uma questão que se imporia de imediato: lá não se pode falar alto, lá não se pode correr fora de hora. Caso a criança, depois de introjetada essa regra, a descumpra,  perde direitos como, por exemplo, o de deixar de ir a uma aula.


Acho que Pedro ficaria tão fixado nesse padrão de comportamento que esqueceria todo o resto da escola. Não daria certo. 



EPISÓDIO 5
AS ESCOLAS BEM MAIS DISTANTES DE CASA

Embalados pela promessa de uma metodologia própria e inovadora dirigimos durante quarenta minutos para conhecer a Escola com Metologia Própria e Inovadora. Durante o trajeto Pedro perguntou se precisaria viajar para ir à escola, o que já me desanimou um pouco. Mas nada como uma boa metodologia para compensar tudo isto. 



Chegamos à  Escola com Metologia Própria e Inovadora e rapidamente saímos: não foi possível falar com ninguém da equipe pedagógica. A escola estava sendo utilizada para uma colônia de férias e não poderia ser visitada. Ficamos a ver navios mas, se quiséssemos, poderíamos matriculá-lo assim mesmo. Acho que faltou prever a visitação neste modelo inovador de escola.

Para não perdermos a viagem, decidimos ir um pouco mais longe, fomos até a escola que, cá entre nós, era a minha predileta: muito quintal, árvores, bichos, proposta construtivista de verdade... Essa era, a meu ver, a Escola Ideal!






Ao chegarmos à Escola Ideal, confesso que fiquei um pouco frustada logo de partida: o que vi foi um muro meio que abandonado,  plantas ressecadas....

Mesmo assim resolvi tocar o interfone...

...mas não havia botão....

Escola Ideal havia fechado as suas portas. Ela não exitia, ela não existia mais... A Escola Ideal não existia mais!

E eu? Eu fiquei diante daquele Nada de Escola, atônita, buscando chão para pisar, buscando forças para recomeçar...

Naquele momento acho que eu quase morri, uma morte de 3 ou 4 segundos apenas, e acho isso porque vi a longa vida escolar de Pedro passar diante de meus olhos, como se fosse um  flash.

Só que uma buzina me acordou, e era meu pai, precisávamos ir adiante. Afinal de contas já era 23 de dezembro e as crianças (Pedro e os primos) ainda não tinham presentes, e o meu marido, continuava mal, prestes a operar.

O período das Boas Festas, nem preciso dizer, não foi exatamente bom. A boa notícia foi que correu tudo bem com a cirurgia. O que já foi muita coisa. Mas o pessimismo estava lá, junto comigo e, desculpem se neste momento não estou sendo políticamente correta, mas para 2011 eu disse: 

"Já vai tarde!".



EPISÓDIO 6
A MUDANÇA DE PARADIGMA: BUSCANDO INFORMAÇÕES JUNTO AOS DEMAIS GRUPOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS



"Eu estou exausta. Já procurei por todas as escolas da minha região e não consegui nada. Eles falam que as escolas têm que incluir? O que encontrei foram apenas escolas exclusivas..."




A fala acima não é minha é da mãe de uma criança autista. Trouxe ela para cá porque acho que pais de crianças com necessidades educacionais especiais, em algum momento, já tiveram esse sentimento de exaustão, em maior ou menor grau. E era assim que eu estava nos primeiros dias de janeiro.

Comecei 2012 disposta a buscar informações junto aos outros grupos com necessidades educacionais especiais. O meu objetivo era o de conhecer nomes de escolas com alguma chance de diálogo sobre inclusão. Isto porque eu estava decida a fugir das escolas que são nota mil em infraestrutura e nota zero em diálogo; isto porque eu estava disposta a fugir das escola sque estão tão envaidecidas e embevecidas pelo quanto são ricas, ou belas, ou cotadas pela mídia, que se esquecem de ouvir e enxergar, de fato, o aluno ;isto porque o que eu buscava para 2012 era o diálogo desde o primeiro momento.

Nessa busca achei muita informação importante que pretendo compartilhar aqui. Foi nessa busca que achei um novo ponto de partida, novas possibilidades, diferentes opções de escolas, o que fica para uma próxima postagem.










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