No penúltimo capítulo da história escolar de Pedro eu havia
dado um ultimato às escolas e decidido que era hora de brincar!
E ele brincou!
No último, narrei a saga que foi a busca pela nova escola.
E, no início de janeiro, estava eu ainda em busca de alguma alteridade.
O ponto de partida seria, a partir de então, a mudança de
paradigma, a troca das escolas mais sistematizadas, tecnológicas e “infra-estruturadas” por
uma mais analógica, customizada, inclusiva, interacionista, capaz de lidar com
a tal “hiperatividade de quadro”, ou seja, a que aparece em situações
específicas, de tédio, de inconformismo, de questionamento das regras ou, como
ouvi, de uma professora: nos “momentos em que a pessoa não consegue se conter nas
próprias carnes!”
.
E a pergunta que ficou no ar durante este período em que me afastei é: será que a Ana Paula encontrou a escola para Pedro? Não a ideal, mas a mais adequada?
E a resposta é: sim e não.
Sim porque no auge do desassossego, e da desesperança, no
momento em que achei que era o fim, quando eu já havia visitado todas as
escolas que imaginava viáveis, cheguei à pequena escola de gente contente com o
que faz, de pátio livre ainda disponível
ao 1º ano, de direção que acredita na tomada coletiva de decisões, de
professoras que têm orgulho e amor pelo que fazem e, principalmente, de
respeito à individualidade.
Nessa escola descobri que só conhecia o discurso do
interacionismo, mas não a sua prática genuína, corajosa, paciente e libertadora.
Essa escola encheu-me de esperanças. E é até um paradoxo um
menino tão conectado, tão cientista ter ficado bem e feliz na escola menos tecnológica
pela qual passou. Meu ritmo mudou também, e passei a considerar melhor o fato
de que se “Einstein Teve Tempo Para Brincar”, seria preciso dar ao lúdico o
lugar que ele merece na vida de uma criança, seja ela superdotada ou não.
E, foi tendo tempo para brincar, que Pedro, o menino que não
queria mais voltar para a escola, encontrou espaço para um desempenho escolar ímpar
nas diferentes matérias, o que confesso que me surpreendeu um pouco. Não pela
sua capacidade, mas porque não imaginava que fizesse as pazes com a escola em menos de
um mês! E confesso mais uma coisa: eu levei um tempo maior para me recuperar e passei pelo menos uns seis meses aguardando o telefone tocar com alguma reclamação da escola (Um pouco de neurose faz parte da vida, pessoal!).
É claro que há comportamentos de Pedro que precisam, ainda, de modulação, como a impaciência e o choro, mas a grande importância da nova
escola, a que chamo de “Escola Inclusão de Verdade” é ter a maturidade de dar
tempo ao tempo.
Bem, mas qual é o lado do não nessa história toda? O não está no fato de que
durante este ano a superdotação ficou de lado e ele muitas vezes me questionou: achava o conteúdo escolar muito fácill. Pedro pediu mais- mais conteúdo, mais informação. Um exemplo: há
alguns dias perguntei se queria revisar a matéria para a prova,
e ele me respondeu que não. Insisti, mesmo sabendo que ele nunca revisou, e comecei a ler a matéria. Mal comecei a ler ele me interrompeu dizendo: “Mãe, as
professoras devem achar que tenho um ano de idade, já sei isso (placas de
trânsito) desde que era bebê!”
A diferença do passado é a tranquilidade com que diz isso, e acho que
não é conformismo não. Já expliquei para ele
que a partir do segundo ano a escola, que tem turmas pequenas, estará cada vez
mais focada em mediar a aprendizagem de
forma personalizada. E isto foi o que ouvi da escola numa conversa tranquila e
construtiva.
E, sendo assim, o próximo ano promete e acho que tudo está se dando no seu
devido tempo: primeiro, Pedro voltou a acreditar na instituição escola; segundo,
voltou a sentir-se feliz; terceiro, acomodou-se à transição da Educação Infantil para o Ensino
Fundamental, ao aumento das responsabilidades.
E agora, finalmente estamos prontos: Pedro e
família, para dialogarmos com a escola sobre como lidar com um aluno
superdotado que ainda não está pronto emocionalmente para uma aceleração. Sinto
que este será um dos fios condutores de 2013.
E que 2013 venha, porque esta
passagem de ano nos encontrará, finalmente, com o coração tranquilo e em festa!
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