terça-feira, 23 de agosto de 2011

Papo entre Pais: Aqui, somos pais ou especialistas?

Por que um cirurgião não deve operar alguém de sua própria família ?

Por que um advogado não deve atuar em um caso onde seja a parte processada ?

O bom senso diz que quase nunca dá certo quando uma pessoa ocupa as posições de especialista e parte interessada ao mesmo tempo.

E a razão é simples: os interesses e emoções pessoais atrapalham os julgamentos objetivos.

Quando comecei a enfrentar algumas das dificuldades que acometem os pais de superdotados, eu, como muitos, fui atrás de informações sobre superdotação.

E existe muito material acessível hoje em dia.

Tive, também, a possibilidade de buscar apoio de profissionais qualificados no tema.

Mesmo assim, faltava algo a essa leitura e a esses profissionais: a experiência concreta e variada dos pais. Isso porque as experiências de superdotação são muito diferentes umas das outras.

Além disso, a literatura a respeito está muito preocupada com a identificação dos superdotados, ou com a natureza da inteligência e relata pouca coisa das situações concretas.

Existem várias questões, para as quais os textos sobre inteligência e altas habilidades oferecem respostas muito genéricas e pobres. Perguntas tais como: você percebeu alguma diferença pelo fato de ser menino ou menina ? Como acelerou o seu filho na escola, e quais foram os resultados ? Como foi quando entrou na adolescência ? Como foi a experiência com as escolas ? Como lidou com o preconceito ? E com a admiração ? O trabalho em centros de apoio está fazendo alguma diferença ? Qual ?

Boa parte dessas informações eu consegui através do contato com outros pais pela internet. Através das redes sociais e blogs encontrei relatos generosos das experiências de outros pais. Estes relatos são diferentes uns dos outros, ainda que tenham muito em comum. Não apenas por conta da individualidade dos superdotados, mas também porque os pais são diferentes, em matéria de valores, de situação social, de condições de apoio aos superdotados em sua região, de idade e, principalmente de história de vida.

Lembro de um relato extenso, feito por um pai brasileiro que morava com seu filho nos EUA. Muitos traços que ele descreveu do filho eram comuns ao Caetano, meu filho, mas as soluções que ele adotou não podiam ser copiadas por mim porque nossa condição social é muito diferente.

Para mim, por conta de minha condição social e das caraterísticas dos colégios particulares em minha cidade, tanto o laudo quanto a aceleração foram fáceis de se obter. Para outros pais, tratam-se de duras conquistas.

Voltando ao meu ponto inicial. Somos pais ou especialistas? Evidentemente há pais de superdotados que são profissionais da área de altas habilidades e educação, há também pais que podem ocupar a posição de especialistas em algo específico, graças a sua formação profissional como professor, psicólogo ou advogado, p. ex.. Mas, na maioria das vezes, somos simplesmente pais.

E o que isso significa ? Significa que estamos preocupados com nossos filhos e a todo tempo nos perguntamos se estamos fazendo a coisa certa, se estamos fazendo o bastante.

De fato, só os adolescentes que estão vivendo seu primeiro amor são mais atravessados por fortes emoções do que os pais e mães.

Nas competições escolares norte-americanas, é comum pais brigarem fisicamente. Claro que estes são casos extremos, mas como é que cada um de nós, pais e mães, reagiria a uma crítica feita aos nossos filhos ou a nosso comportamento como pais, que consideramos injusta ? De resto, como é possível fazer uma crítica justa sem conhecer o contexto em que uma atitude foi tomada ?

Como pessoas tão emocionalmente envolvidas com o assunto podem ser objetivas a ponto de serem tomadas como especialistas ? Creio que somos pais interessados e informados, o que não é pouco, mas não somos especialistas, e devemos ter a humildade de não falarmos como especialistas.

Foi partindo desse ponto de vista que construí este relato, e é com esse espírito que faço minhas interações com outros pais: com delicadeza e respeito e sempre lembrando de que do outro lado da rede estão pais e mães como nós, sensíveis e inseguros.

Por fim, criar filhos não é uma ciência exata, em que alguém possa dizer que fazendo X teremos o resultado Y. Educar é uma arte, é um caminho que o caminhante faz ao caminhar, e para o qual precisa de companheiros generosos, dispostos a partilharem sua experiência, seus erros e acertos, mas não conselhos definitivos, pois cada um tem seu caminho a percorrer, e o que funciona para um não funciona, necessariamente, para o outro.





Jair é pai de Caetano, um menino de 8 anos que se considera um pequeno cientista, admira Darwin e Einstein, e adora Monteiro Lobato, Julio Verne e o que mais houver de literatura e ciência para ler.


7 comentários:

  1. Paula, parabéns por trazer esse belo relato do Jair num momento especial para o blog e para outros pais.
    Jair parabéns por acolher e agregar vários pais numa base de delicadeza e respeito.
    Flores para nós!

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  2. Paula, parabéns pelo seu Blog, muito bem produzido e de grande utilidade para os pais e educadores, também, muito oportuno a abertura desse espaço à aqueles que desejam compartilhar suas experiência nessa difícil tarefa de educar uma criança, em especial um superdotado.
    Parabéns ao Jair pelo belo relato, demonstrando sabedoria na preocupação constante na formação de seu filho como pessoa.
    Lindas flores para voces!

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  3. Olá, realmente o Jair acertou em cheio e falou ao coração dos pais. Sou muito grata a todos que compartilharam e compartilham as suas experiências comigo.Isto é impagável.

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  4. Temos algo em comum, ou melhor, mais alguma uma coisa em comum. Leio os relatos da Paula, Ana Paula e Jair e constato que todos nós escrevemos muito bem. Ficaria muito feliz em ver meus filhos crescidos usando a comunicação escrita da forma como fazemos.

    Parabéns a todos.

    Arnon

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  5. Sempre que quero relembrar algum sobre superdotados, venho para esse relato tão puro do Jair, que realmente nos dar consciência do quanto o mundo dos superdotados é vasto e misterioso. Voce nos faz refletir sobre tudo isso!

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