segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Aprendizado de Ciências através do método científico


Despertando pequenos cientistas


Ferramenta pedagógica voltada para alunos do ensino fundamental estimula a descoberta do conhecimento por meio de observações diárias da natureza. A análise dos dados permite o estudo de temas curriculares.




Vivenciar o universo científico ao redor de nós. Essa é a essência da ferramenta pedagógica usada pela professora Simone Cristina de Freitas Mesquita na educação de crianças do ensino fundamental. Dentro e fora de sala de aula, os alunos realizam atividades experimentais e as análises dos resultados conduzem ao aprendizado de temas que passam por toda a grade curricular obrigatória.
O objetivo da metodologia é despertar o pensamento científico nos estudantes a partir de observações diárias da natureza e da comparação dos dados coletados entre si, o que estimula discussões em sala, sempre orientadas pelos professores.
O objetivo da metodologia é despertar o pensamento científico nos estudantes a partir de observações diárias da natureza
Dessa forma, os alunos são levados a compreender, por exemplo, as causas dos movimentos de translação e rotação da Terra em relação ao Sol e seus efeitos sobre o clima, a definição das estações do ano e o próprio conceito de ano.

“Em vez de receber o conhecimento pronto e fragmentado em disciplinas, os estudantes aprendem desde cedo a buscar respostas para problemas a partir da investigação científica, do levantamento de hipóteses e do compartilhamento de dúvidas”, completa Mesquita, que há mais de 24 anos leciona nas redes pública e particular.

Nesse processo de aprendizagem, além dos temas ligados à área de ciências, outras disciplinas são trabalhadas: geografia, história, matemática e até português. Os alunos aprendem, por exemplo, sobre agricultura, que depende da iluminação solar e do regime de chuvas, e sobre a história e a evolução do calendário. Eles também usam a matemática para fazer gráficos dos dados colhidos, entre outras aplicações, e o português para interpretar e produzir textos com seus registros e conclusões.

A teoria na prática

O arcabouço teórico do  O calendário e a medida do tempo –como é chamada a iniciativa – começou a ser desenvolvido em 2005 pelo físico Fernando Paixão, do Instituto de Física (IF) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A metodologia tinha a finalidade de apresentar noções básicas de ciências (particularmente de física) a crianças do 2º ao 5º anos do ensino fundamental.

O projeto só tomou a forma atual em 2008, durante o mestrado de Simone Mesquita na Faculdade de Educação da Unicamp, sob a orientação de Paixão e do educador Jorge Megid Neto. O trabalho uniu o conteúdo teórico elaborado pelo professor Paixão com uma atividade prática realizada por Mesquita em 2006 em um colégio particular no município de Americana, no interior paulista.

Nessa atividade, a professora chamava diariamente um aluno para anotar, em um mural chamado Cantinho da Observação, a data (observada em um calendário), a temperatura (medida por um termômetro) e os horários do nascer e do pôr do sol (consultados em um jornal). O estudante também desenhava no mural as condições do tempo.


A didática do projeto Calendário é semelhante: em uma das dinâmicas, por exemplo, os alunos registram, a cada 15 dias, a posição do Sol a partir de um mesmo referencial. Com as informações em mãos, eles se reúnem e discutem como a iluminação nos hemisférios Norte e Sul varia ao longo do ano.

Depois, procuram relacionar as conclusões obtidas com as estações do ano, o clima, a agricultura. “Os alunos percebem que quanto maior a incidência de luz solar em uma região, maior é o calor, o que explica as estações do ano e o fato de na linha do Equador não haver estações como as quatro tradicionais”, esclarece Paixão.
Os professores aplicaram a metodologia em uma turma do 5º ano de uma escola municipal em Santa Bárbara d’Oeste, interior de São Paulo. Além de preencher os dados no mural Cantinho da Observação, os alunos observavam a posição do Sol em relação a um objeto fixo e, em uma cartolina, marcavam os deslocamentos da sombra de uma árvore para tentar entender o movimento da Terra e sua relação com o calendário.
“Essa foi a mais bem sucedida etapa prática do nosso projeto”, avalia Paixão, acrescentando que a metodologia foi depois implantada em outras turmas de ensino fundamental de São Paulo. Atualmente, ela está sendo aplicada por Mesquita em turmas de 4º e 5º anos de uma escola particular de Pernambuco.
Essa proposta pedagógica abre caminho para a descoberta do conhecimento logo no início da fase escolar
Para tentar ampliar o emprego da ferramenta em sala de aula, Paixão ensina os conceitos e práticas do projeto Calendário aos graduandos da Faculdade de Educação da Unicamp, como parte de uma disciplina sobre fundamentos do ensino de ciências ministrada por Jorge Megid.
Para Paixão, um dos pontos positivos dessa proposta pedagógica é abrir caminho para a descoberta do conhecimento logo no início da fase escolar, incentivando, assim, a formação de futuros pesquisadores.
Mesquita destaca ainda a melhora na participação dos alunos em sala. “Quando se tornam mais velhos, eles em geral ficam com vergonha de perguntar”, comenta. “O projeto estimula as dúvidas e os questionamentos do conteúdo”, completa.

Leandro Morgado
Dica dada por Jair
Obrigada!

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