Sai daqui!
Cala a boca, p.!
(o p. é um palavrão!)
Sai daqui!
Engole o choro!
Se não comer tudo vai apanhar!
Sai daqui!
Se continuar vai ficar de joelhos!
Sai da minha cozinha, vai para o seu quarto!
Sai daqui!(tapa)
NÃO GRITEM! (gritando...)
Vai dormir de rabo quente!
Sai daqui!
ANDA, VAI DORMIR!!!
(ainda gritando, logo após dá uma palmada. Em seguida a criança chora)
Sai daqui!
ABRE ESSA PORTA, P.!
(e a criança responde: "Não vou abrir, você vai bater em mim!" Ah, o P. é aquele mesmo palavrão!)
Sai daqui!"
Essas frases, de uma certa forma, fazem parte de minha rotina e me incomodam.
Eu as ouço quando estou em minha cozinha, às vezes também é possível ouví-las quando estou no quarto de Pedro.
São frases ditas numa casa com duas crianças e um bebê.
Com o bebê, que deve estar beirando os 12 meses, pouco falam. Minto, para não ser injusta ouvi uma canção da Xuxa sendo cantada há alguns meses atrás. Era a babá. Mas a moça se foi em pouco tempo e nunca mais ouvi canções. Ah, também ouvi um adulto falando com voz infantil:
"Se fizer cocô na calça vai levar uma porradinha!"
O contraste da voz infantilizada com o conteúdo da mensagem soou-me como um dos maiores deboches que já ouvi na vida.
Essas vozes, quando me é possível ouvi-las, me assustam e sobressaltam. Uma vez Pedro falou:
"Não mamãe, não é o pai deles que está falando não, é um monstro."
Sei que este não é o tema deste blog, mas de uma certa maneira, quando a gente fala sobre um grupo de crianças está falando sobre todas elas.
Já pensei em mandar para esta família o Limite sem Traumas da Tania Zagury, mas não tenho intimidade, seria um insulto (Olha ele aí novamente!). Mas não é insulto o que essas crianças vivem também? Recorrendo à revista Psique encontrei:
"Os insultos, os nomes injuriosos, o isolamento forçado, a rejeição, as ameaças, a indiferença emocional e as humilhações representam formas de volência psicológica capazes de prejudicar o desenvolvimento da criança, sobretudo se vierem de um dos pais ou de alguém querido."
A gente às vezes cai na armadilha de achar que as famílias são como as dos comerciais de margarina, felizes e sorridentes, mas o infortúnio também pode morar ao nosso lado e mal nos darmos conta disso!
Para ler a matéria Infância sem Trauma da Revista Psique, clique aqui.
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