O termo tabu refere-se àquilo que é probibido em determinado grupo social.
Ele se apresenta em diferentes aspectos. Há, por exemplo, o tabu do objeto (da palavra), a partir do qual determinados assuntos não podem ser falados. São temas que não podem entrar em nosso discurso sob pena de punição.
Foucault apresenta o tabu do objeto como uma das formas de interdição (proibição, obstrução) da nossa fala. Delimitar os limites da fala é uma forma de controle que as variadas instituições da sociedade (escola, família, governo, etc) fazem sobre os indivíduos.
O tabu pode ser estudado sob diferentes enfoques. De acordo com a visão psicanalítica de Freud, o tabu refere-se a tudo aquilo em que é proibido tocar e sua característica principal, e de origem, é a ambivalência entre o desejo e a proibição. Mas se por um lado há a proibição, por outro há sempre o desejo; desejo que foi sufocado, desejo de fazer, de falar, de sentir o que é considerado tabu. O desejo tenta conspirar a todo tempo contra a proibição.
Os tabus variam no tempo de acordo com a evolução da própria sociedade. De tal forma que, no passado, temas como o câncer, letalidade, prevenção à gravidez e sexualidade das crianças e adolescentes já foram temas sobre os quais não se podia falar.
Na modernidade, os tabus são outros, como aborto, aids, células-tronco, eutanásia, morte...
Lidar com os tabus é lidar com os dilemas que afligem a própria sociedade.
O dilema embutido por trás do aborto pode ser: afinal de contas, somos ou não responsáveis pela Criação?
Já a Aids seria a punição derradeira pelo sexo?
A dúvida sobre o momento em a vida inicia está por trás do debate sobre as células-tronco. Isso, além da ética entre se valorar ou não a importância de uma vida em relação às outras.
A eutanásia encerra um dilema que abate a humanidade: temos ou não o poder de vida e morte sobre nós mesmos e sobre os outros?
E, por fim, o tabu da morte expõe, de modo claro, o quanto nós, homens, apesar de tantas conquistas, ciências, inventos, saberes, somos, no final das contas, muito, muito frágeis.
A superdotação é um tema tabu. É o que afirma Angela Virgolim, uma autoridade no assunto, quando da Introdução do Livro Altas Habilidades / Superdotação/ Encorajando Potenciais (2007). Sobre a superdotação ainda há muitos mitos e idéias errôneas. Os veículos de massa reforçam esse imaginário.
A superdotação é um tabu porque vela um dilema que nos assombra: será que, de fato, alguns seres são mais dotados do que outros? Como conciliar esse discurso com o da igualdade? É um dilema, e todo dilema incomoda. E se incomoda vira tabu.
A adoção do termo alta-habilidade, de uma certa forma, procura desmistificar a superdotação, uma vez que a palavra superdotado pode sugerir, no imaginário das pessoas, que há um grupo de iluminados e bem dotados na sociedade e outro que não o é.
Hoje, porém, já se sabe que é preciso a existência de diversos fatores- familiares, escolares e sociais- para que uma criança com potencial para a superdotação torne-se um superdotado. (Veja em A Construção de Práticas Educacionais para Alunos com Altas Habilidades / Superdotação; Volume 1, p.20)
Hoje, porém, já se sabe que é preciso a existência de diversos fatores- familiares, escolares e sociais- para que uma criança com potencial para a superdotação torne-se um superdotado. (Veja em A Construção de Práticas Educacionais para Alunos com Altas Habilidades / Superdotação; Volume 1, p.20)
E como o tabu proíbe o desejo, ao trazer essa informação para o ambiente escolar, o que vejo é que uma escola que negue os dons específicos de suas crianças, no nosso caso em especial, os dos superdotados, adotando uma proposta homogeneizadora, ou seja, uma escola que negue os desejos, as competências e singularidades de seus alunos terá, no final da contas, de arcar com o desestímulo do aluno talentoso, ou a sua reclamação, ou a agressão, ou a apatia, ou o fracasso escolar.
Afinal de contas, o desejo que foi abafado, e para os fins desse texto, o desejo é a própria condição de superdotação de uma criança, sua imaginação vivaz e acelerada, suas deduções inusitadas e desafiadoras, esse desejo não pára nunca de querer aflorar e se manifestar.
Deixo aqui o vídeo que fiz há tempos atrás, quando participei de um Seminário sobre o tabu estudado a partir da perspectiva da abordagem da morte em sala de aula.
PARA SABER MAIS:
Tabu: conceito
Interdição: explicação
Download de livros:
A Construção de Práticas Educacionais para Alunos com Altas Habilidades / Superdotação; Volume 1; Organização Denise de Souza Fleith
A Ordem dos Discursos; Foucault
Tabu- Parte 1
Tabu- Parte2
Tabu- Parte3
Tabu- Parte 4
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